PEQUENO ESCLARECIMENTO

PEQUENO ESCLARECIMENTO

"Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês."

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

Páginas

sábado, 17 de novembro de 2012

O TEMPO MUITO ENSINOU

"Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.

Creio na força imanente
que vai gerando a família humana,
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.

Creio na solidariedade humana,
na superação dos erros
e angústias do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher tudo fácil.
Antes acreditar do que duvidar."

Cora Coralina

sábado, 13 de outubro de 2012

Depois de ter você

"Depois de ter você 
Pra que querer saber 
Que horas são? 

Se é noite ou faz calor 
Se estamos no verão 
Se o sol virá ou não 
Ou pra que é que serve 
Uma canção como essa? 

Depois de ter você 
Poetas para quê? 
Os deuses, as dúvidas 
Pra que amendoeiras pelas ruas? 
Pra que servem as ruas? 
Depois de ter você..."

Adriana Calcanhoto



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Sou Eu!

Sou Eu!

À minha ilustre camarada Laura haves 
Pelos campos em fora, pelos combros 
Pelos montes que embalam a manhã
Largo os meus rubros sonhos de pagã 
Enquanto as aves poisam nos meus ombros... 

Em vão me sepultaram entre escombros 
De catedrais duma escultura vã! 
Olha-me o loiro sol tonto de assombros, 
as nuvens, a chorar, chamam-me irmã! 

Ecos longínquos de ondas... de universos.. 
Ecos dum Mundo... dum distante Além, 
Donde eu trouxe a magia dos meus versos! 

Sou eu! Sou eu! A que nas mãos ansiosas 
Prendeu da vida, assim como ninguém, 
Os maus espinhos sem tocar nas rosas! 

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

terça-feira, 10 de julho de 2012

Cora Coralina

"Lindo demais
Coração é terra que ninguém vê

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei..."

Cora Coralina

segunda-feira, 14 de maio de 2012

HABITANTE

Em mim habita um eu
que não é mais eu
Sou tudo e não sou nada
Um copo do melhor néctar
cheio, de nada

Não me reconheço em meu corpo
Meu espírito, meu espaço
único, próprio e indivisível

Quem sou eu?
se não alguém que não sou mais
Mas e quando deixa de ser,
O que se tornou?

Não sei...
ou sei, mas prefiro não pensar?
O vazio que habita em mim faz me consolar...
Pensar em que?

O que são os pensamentos se não
apenas formas vivas alienígenas que entram no nosso cérebro
e que nos fazem acreditar que podemos ser
mas, será que somo?

Mas... quem fomos? Quem somos? E quem seremos?

Quem eu sou? O que sou?
Sou?... Ou me tornei?...
O que sou para mim... se não o escravo e o algoz
o prisioneiro e o carrasco...
De mim e para mim

Eu em mim...

NO MONTE OLIMPO

Seus olhos expressam carinho 
como nunca vi
Seus lábios me mostram o caminho
que eu quero seguir

 És grande e forte nobre príncipe
 com o olhar que o meu corpo aquece
És suave e macio   
no seu colo me entorpece

No seu peito me aninho
e com muito carinho, me quer bem
És um rompante, quente, viril
Faz-me aquecer em meio as tristezas de um dia frio

Cavaleiro poderoso que à luz da lua e ao som do silêncio
Fez calar-me a tristeza
E em seus braços aconchegantes e macios como a seda
Fez-me sonhar

Traz-me de volta para vida
que havia esquecido
Que podia ser vivida
E numa noite fria me fez feliz

sábado, 12 de maio de 2012

Borboletas


"Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de
se decepcionar é grande.

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.

Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.

As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.

O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar
não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!"

Mario Quintana

terça-feira, 8 de maio de 2012

Canção de Outono

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti
Vim para amar neste mundo
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Cecília Meireles


segunda-feira, 26 de março de 2012

Pai, me ajuda a olhar!



"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: ,
- Me ajuda a olhar!”

Eduardo Galeano, in “O livro dos abraços
do Blog  Nosso Cotidiano

sexta-feira, 23 de março de 2012

LUA ADVERSA

"LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."

Cecília Meireles

quinta-feira, 8 de março de 2012

BEM ME QUER!

"Bem me quer! Bem me quer!
Perdoe minhas fugidas
Noites frias me nublaram
Me sentia sem saída, agora não

Bem me quer! Bem me quer!
Conhecer o desconhecido faz movimentos
Acreditar nas magias invisíveis faz neve no deserto
Viver cria tempestades de bênçãos no peito

Bem me quer! Bem me quer!
Um abraço em natureza
A família de todos os lugares
Os caminhos dos sonhos e belezas

Bem me quer! Bem me quer!
Consciência e coragem
Coração desbravador
Olhar de amor e serenidade

Bem me quer! Bem me quer!
Bem me quero! Bem me quero!
Bem te quero! Bem te quero!
Bem querer sutil, em carinho e natural."


Mitakuye Oyasin!
“Por todas as nossas relações!”

Série: 365 Inspirações Xamânicas para o nosso Cotidiano
Autor: Samuel Souza de Paula
Crédito da Imagem: Snow Wolf - Barbara Banthien

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Duas Estações

"Ás vezes temos sentimentos nobres e bonitos,
mas que não podem ser exercitados.
Ás vezes temos sentimentos confusos,
mas que não podem ser resolvidos.
Ás vezes temos sentimentos profundos,
mas que não podem ser por nós mesmos compreendidos.
Ás vezes temos sentimentos avassaladores,
mas que não podem ser conhecidos."


Rildo Marques de Oliveira
2 Estações